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Débito, crédito ou QR Code?

Custos menores e mais agilidade no pagamento abrem espaço para o crescimento da modalidade de compra feita pela câmera do celular. Trata-se de uma ameaça às tradicionais maquininhas.

A chamada “guerra das maquininhas”, que define a disputa dos bancos e empresas de meios de pagamento, intensificada nos últimos cinco anos, ainda parece estar longe de um armistício. Existem cerca de 20 milhões de pontos com capacidade para receber os equipamentos no mercado empreendedor e atualmente 10 milhões de máquinas estão ativas. Um grande campo a ser explorado, que deve ser preenchido em pouco tempo, segundo especialistas e players. Paralelamente, já começou a “batalha do QR Code”, que num futuro não tão distante pode acabar com maquininhas. Para enfrentar essa luta tecnológica dos pagamentos e transações comerciais, o Mercado Pago, fintech do Mercado Livre, mostrou algumas de suas armas, promete avançar algumas casas e ganhar terreno nessa disputa.

A aposta no QR Code leva em consideração, entre outros fatores, a mudança do mercado, os custos mais baixos e o comportamento do consumidor. O vice-presidente do Mercado Pago, Tulio Oliveira, classifica como “a grande notícia de 2019” o crescimento da empresa nesse sistema de pagamento. O executivo não revela os números de transações nem o volume de dinheiro movimentado desde a implementação da plataforma de QR Code pelo Mercado Pago, em novembro de 2018. Mas mostra um pouco de seu mapa de atuação. Pouco mais de um ano depois de lançar o código bidimensional, são 16 milhões de consumidores que possuem conta no Mercado Livre e no Mercado Pago com potencial para usar o sistema, além de 170 mil estabelecimentos que aceitam o QR Code da marca em todo o Brasil, que podem chegar a 1,5 milhão de vendedores se somados os terminais POS a partir de parceria com a Cielo.

Apesar da visão otimista, o desafio é grande. Primeiro porque a briga para ampliar mercado deve ser tão voraz quanto a das maquininhas. Segundo, e principalmente, com relação à cultura do brasileiro no uso do QR Code. “A vida não vai ter aventuras se você não se propor a fazer coisas diferentes. Estamos numa grande aventura”, afirma Oliveira, que está desde 2014 no Mercado Pago. “Deixamos de ser uma empresa que apenas processava pagamentos dentro do Mercado Livre para ser uma das líderes do setor. E agora fazemos a entrega de soluções de conta digital para nossos clientes.”

A mais nova aventura, que também pode ser chamada de guerra pelos menos eufemistas, é disseminar essa tecnologia que ainda não faz parte do cotidiano da grande massa. Para se ter ideia da dificuldade, faz pouco tempo, alguns grupos de mídia lançaram o QR Code como estratégia para fisgar novos públicos, com conteúdos exclusivos a partir da leitura do código, como vídeos, fotos e entrevistas, por exemplo. Não emplacou. Algumas cidades turísticas também colocaram o sistema em seus principais locais de visitação, para os turistas terem informações complementares no celular sobre o lugar ou uma obra de arte, no caso de museus. Não emplacou. “Há muitos casos no mundo inteiro que funcionaram e que não funcionaram. É uma tecnologia que vem evoluindo para maior adoção das pessoas”, diz o vice-presidente do Mercado Pago.

Mas um progresso começa a ser perceptível quando a maior rede de televisão do País coloca o QR Code no meio da transmissão das partidas de futebol. E explica para o telespectador que, ao apontar o celular para a tela da TV e escanear o código, ele é direcionado ao site da emissora com notícias de seu clube. Isso ajuda a popularizar o QR Code. Porém, esse é um exemplo de fator externo que auxilia na divulgação do sistema. O que, então, o Mercado Pago está fazendo para impulsionar a utilização do QR Code para vendedores e consumidores? Oliveira afirma que a empresa trabalha em duas frentes principais: apoio e treinamento para comerciantes e descontos para consumidores.

No apoio direto ao empreendedor, são explicadas as vantagens do QR Code. Com as grandes redes de varejistas, são feitas integrações de sistemas e de informações. Com os pequenos, distribuições de dados mais massivas pelo APP. Um dos segredos é a conscientização do empresário sobre a necessidade do sistema que, segundo Oliveira, é mais rápido, eficiente e barato do que as transações com cartão de débito ou crédito.

Outro diferencial é que por meio do pagamento na plataforma do Mercado Pago as empresas sabem mais sobre seus clientes, seus gostos, seus hábitos e costumes e com isso podem oferecer serviços e produtos mais adequados a cada perfil. Os argumentos têm atraído adeptos. O Mercado Pago já tem parceiros como Burguer King, Cielo, Cinemark, Cobasi, Grand Vision, McDonald’s, Rei do Mate e Spoleto. E recentemente anunciou a adesão de 5àsec, Giraffas, Lopes Supermercados, Madero, Outback, Petz e outros.

VANTAGENS A funcionalidade do uso do QR Code também satisfaz o consumidor. Na prática, o sistema facilita e agiliza o pagamento. No método da tradicional maquininha, numa conta dividida entre oito amigos numa steakhouse, por exemplo, o aparelho passa na mão dos oito colegas, com o atendente colocando o cartão e o valor de cada um, para em seguida ser colocada a senha. Um processo que pode demorar alguns minutos. Com o QR, um único código é impresso na conta e cada amigo, com seu próprio celular, o escaneia e paga sua parte ao mesmo tempo. A conta é quitada integralmente em segundos. Outro benefício que convida o comprador são os descontos disponibilizados no APP do Mercado Pago. Nesta semana havia mais de 1.000 cupons de descontos de R$ 20 em compras em supermercados, R$ 15 em restaurantes e farmácias e R$ 10 em cinemas e postos de combustível.

Para o executivo do Mercado Pago, a central de ofertas “é um ponto chave” do sucesso e do crescimento da utilização do código bidimensional. “Desconto gera benefício claro e o cliente testa a tecnologia.” As promoções podem ser feitas pelo próprio parceiro diretamente no aplicativo do Mercado Pago. O varejista pode apresentar seus descontos ou fazer campanha agressiva e direcionada a quem usa o QR. “É um estímulo para as pessoas usarem o sistema”, diz o executivo. “Quanto maior o nível de fidelidade do consumidor, maiores são os descontos”, completa.

Na ponta do processo de popularização do QR Code estão garçons e caixas, geralmente responsáveis pelas cobranças e pagamentos. A pergunta que eles mais fazem no momento da compra é: “Débito ou crédito?” O desafio é incluir a opção de QR Code nesse questionamento.

Para isso, o Mercado Pago tem se esforçado em melhorar a comunicação com esses profissionais. E produziu vídeo e tutoriais para auxiliar os empreendedores e redes varejistas a treinarem os trabalhadores. “No começo, ninguém sabia o que era QR Code. A relação com o cliente mudou. Hoje tem muita gente preparada para atender nesse sistema”, diz Oliveira. “Varejista que é engajado com a solução, gera resultado, cresce a força de vendas”, acrescenta, ao colocar parte da responsabilidade do sucesso da ferramenta nas mãos dos comerciantes e empresários. E diz que o Mercado Pago também disponibilizará nas próximas semanas saques em caixas eletrônicos da rede 24 horas por meio do QR Code.