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Crise reduz ritmo de expansão do crédito

Os bancos esperam uma forte desaceleração do crédito para pessoas físicas no fim deste ano como conseqüência da crise de liquidez que afeta o mercado interbancário brasileiro e dos efeitos de uma recessão mundial. Para 2009, dados mais otimistas falam em crescimento da ordem de 15%, mas alguns analistas já estimam apenas 5% de expansão. Neste ano, a vigorosa expansão dos empréstimos registrada no primeiro semestre deve garantir um crescimento dentro das metas estipuladas no início do ano, apesar da desaceleração ter começado antes mesmo do agravamento da crise mundial. Até agosto, último dado disponível no Banco Central, a carteira de pessoa física avançava a uma taxa anual de 29%. Em 2007, o avanço foi de 33% no ano. Desde meados de setembro, no entanto, o aprofundamento dos problemas nos mercados globais restringiu a liquidez em todo o mundo e, particularmente no Brasil, concentrou a captação de recursos na mão de poucos bancos. Com isso, as instituições se tornaram mais seletivas na concessão, restringindo prazos e aumentando taxas. Para Adalberto Savioli, presidente da Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento (Acrefi), o pico da crise está ficando para trás e o mercado tende a melhorar em termos de liquidez, mas o aumento da seletividade reduz o ritmo de concessão de crédito em cerca de 35%. "O fim de ano vai ser mais fraco do que imaginávamos". Como conseqüência, disse ele, o crescimento dos empréstimos no próximo ano já está comprometido. "Devemos crescer pelo menos 10% em 2009". O número é bastante inferior ao avanço registrado nos últimos anos e também menor do que as previsões feitas pelos bancos antes das turbulências mundiais. A última estimativa da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), por exemplo, realizada entre os dias 17 e 19 de setembro, logo após a quebra do Lehman Brothers, mostrava uma expectativa de avanço dos empréstimos para pessoas físicas de 20% no próximo ano. Renato Oliva, presidente da Associação Brasileira de Bancos (ABBC), afirma que há de fato uma preocupação com a atual dinâmica do crédito. "As pessoas físicas, diferentemente das empresas, ainda está sendo atendida, mas a leitura pode não ser a mesma daqui um mês. Pode acontecer com os clientes o que acontece hoje com as companhias". Segundo ele, com o agravamento da crise e a concentração de liquidez na mão dos grandes bancos, houve um imediato travamento das concessões para as empresas. No caso do varejo, esse movimento é mais lento pela própria dinâmica da operação. "As estruturas para a concessão para pessoas físicas são maiores, com diversos canais de acesso, campanhas de marketing etc. Na pessoa jurídica, você consegue fechar a torneira no comitê de credito. Mas se a crise permanecer aguda daqui um mês haverá impacto também para as pessoas físicas". Com todas essas variáveis, Oliva não se arrisca a projetar os próximos meses. "É impossível. Estamos numa situação anormal. A dinâmica do crédito está emperrada. Tem que começar a funcionar de novo. Eu até tinha uma previsão na semana passada, mas joguei fora". Já a equipe de análise da Bradesco Corretora, em relatório para clientes, espera uma queda no avanço das carteiras de todos os bancos e expansão de apenas 5% ao longo de todo ano de 2009. "Os grandes bancos apresentarão um crescimento da carteira de crédito de apenas 6% no segundo semestre de 2008, sendo a maior parte obtida no terceiro trimestre", diz o texto. Também em relatório, a equipe do Unibanco afirma que a expansão dos empréstimos deverá se manter em 2008, mas para o próximo ano haverá redução. A projeção anterior, de 21%, foi reduzida para 16%. Como conseqüência direta do momento de restrição nos empréstimos, as linhas de crédito consignado já apresentam desaceleração, com equipes sendo reduzidas e até mesmo bancos encerrando operações. Alguns bancos puxaram os prazos para o limite de 24 meses. "Ninguém vai trabalhar no prejuízo. Se o dinheiro está mais caro e tem teto de juros, a instituição irá reduzir a oferta. Provavelmente vai chegar ao ponto de parar as concessões, porque o banco não ganha nada e ainda fica com risco de crédito", afirma o presidente da Acrefi, Savioli. Outra modalidade que sofre mais rapidamente nos casos de menor liquidez é o financiamento de veículos. Os bancos de varejo se tornaram bastante seletivos, com prazos médios recuando para 36 meses, bem longe dos antigos 80 meses. Já as instituições ligadas a bancos de montadoras lançaram promoções especiais com taxas reduzidas para impulsionar as vendas, mas também com prazos menores. Há um aspecto positivo, disse Savioli, pois com a maior exigência os níveis de garantias também aumentam e há mais segurança no crédito. "Ainda não há um movimento de alta da inadimplência, que está na casa dos 7,5%, mas imagino que passando a crise e como o mercado voltando a operar, vai haver impacto". Segundo dados do Banco Central, desde o fim do ano passado os atrasos superiores a 90 dias passaram de 7%, em dezembro, para 7,5% em agosto.